quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Em busca da felicidade

Ele olha para a fotografia dela.
É uma moldura numa casa estranha onde estranhos lhe servem um lanche de cortesia.
Ele é novo na terra. Mudou-se. Trocou a grande cidade pelo ar do campo.
A estranha, de sua grande idade, oferece-lhe um chá. A casa enche-se com a música que sai do rádio. É um fado.
Ele continua a olhá-la, na fotografia. Os olhos dela parecem chamá-lo, querem encantá-lo em histórias perdidas na sua imaginação.
A estranha percebe a sua atenção na fotografia. Conta-lhe que é a sua filha, que emigrou em busca de sonhos e felicidade.
Como ele queria encontrar a felicidade também!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O amor morreu

Ela descobriu que não sabe o que é o amor...
As pessoas falam tanto dele mas Ela não sabe o que é...
Ela conhece a luta dos corpos em busca de prazer...do prazer pelo prazer...
Mas Ela não sabe o que é o amor...já ouviu falar dele...
Ou talvez se tenha desacreditado.
Ouviu uma música... 'O nosso amor morreu quem o matou fui eu.'
Talvez Ela tenha morto o amor também. Para não o voltar a sentir outra e outra vez...
Talvez Ela tenha morto o Amor.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Ele

Ele é metódico, organizado, quase perfeito.
Na vida, tenta que tudo seja perfeito, não sabe o que significa um meio termo. Diria que tem quase um comportamento obcessivo-compulsivo.

Saiu de casa dos pais estudou Engenharia Civil numa das mais importantes Universidades do país. Agora trabalha. Tem um emprego estável com um ordenado que foge à crise. Vive sozinho.

Muitas 'elas' lhe vão passando pela vida. Não sabe se é a mania de ter tudo organizado e protoculado que as afasta dele. Na realidade, os truques de sedução e as respectivas palavras que ele conhece são demasiado efémeras. Os seus namoros são efémeros.

Hoje saiu do trabalho, foi jantar a casa dos pais e depois saiu com uns amigos.
Esta noite não deu uso às palavras de sedução.
Uma tristeza apoderou-se dele. Despediu-se dos amigos e foi para casa.

Fechou a porta, dirigiu-se para quarto.
Deitou-se. A cama está fria e ele sozinho.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Ele e Ela

Ele e Ela são figuras que de repente se desvanecem, como se de amigos imaginários se tratasse...

Ele e Ela desaparecem por algum tempo, onde quer que estejam, mesmo que seja num mundo imaginário, estarão bem, estarão com as suas personalidades definidas a tentar vingar num mundo difícil. Afinal o mundo real é assim...

Ele e Ela, gosto de imaginá-los a passear de mãos dadas ao fim do dia, quando o sol se põe. Com a época que se aproxima, certamente andarão nas compras. Sei que ele lhe vai oferecer algo que ela precise, mas dispendioso. Sei que ela lhe vai oferecer algo feito por ela, com o seu coração. Ambos vão ficar contentes com o que vão receber, porque parte da cumplicidade uma compreensão inerente ao amor.

Imagino-os a descer a calçada, onde ao fundo ainda se vendem castanhas e na praça já existem as iluminações alusivas a esta altura...

Os dois se desvanecem no meio da multidão.

Ele e Ela.

sábado, 7 de novembro de 2009

A lua

A noite é intrigante para todos, o escuro recorda-nos o medo e a lua é a única luz que existe.

Desde sempre que ela olha a lua com curiosidade, não gostava de ser astronauta, apenas sonhadora. Ela gosta de imaginar histórias de romance e mistério. Ela gosta de olhar a lua e sonhar.

Ele gosta de olhar a lua sobretudo quando se sente triste e só. Como se a lua fosse a sua única companhia. Como se a lua o abraçasse.

Um abraço do fantástico como fantásticas são as histórias que ela imagina.

Os dois caminham à noite na rua. Cruzam-se. Ela olha-o distraída, ainda adormecida na sua realidade. Ele desvia a atenção da lua e pensa que afinal não está sozinho.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Silêncio

A vida é uma descoberta constante. Uma descoberta de como viver. Uma descoberta de sensações, aromas, cores, pessoas...
A descoberta do silêncio das palavras, quer para ele quer para ela, começa quando as perguntas que fazem não têm resposta.
O silêncio como companhia nas noites calmas que contrastam com o turbilhão que é a sua mente.
E esse silêncio prolongar-se-á durante o resto das vidas dele e dela.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Outra descoberta

E eles descobriram que a vida dá voltas e voltas. Eles descobriram que as pessoas vão e voltam, umas só vão e outras não voltam. Eles descobriram que a vida pode ser como um piscar de olhos bonitos, rápida e intensa...
Ela nunca se reprimiu de brincar com a vida à maneira dela. A proximidade da morte fá-la viver no limite. E, apesar de tudo ela sabe valorizar a vida.
Ele sabe que as pessoas morrem. Já perdeu pessoas de quem gosta. Sabe que a vida um dia chegará ao fim. E tem de viver e concretizar projectos antes que seja tarde.
Ele e Ela têm noções diferentes da vida, mas ambos sabem que a morte os rodeia e sabem que um dia deixarão de ser o epicentro...

domingo, 23 de agosto de 2009

A descoberta II

Ele não tem grandes descobertas a fazer na vida. Nunca nada lhe faltou. Faltava-lhe talvez o corpo e a beleza estonteante dos rapazes da sua idade. Que utilizavam essa beleza para seduzir as meninas da idade deles. Ele descobria a arte da sedução. Sabia que não era necessário ter uma beleza semelhante à beleza de estrelas de cinema. Sabia que haviam meninas mais tristes e perdidas que precisavam de um apoio, ainda que efémero, para se sentirem mulheres. Ele sabia que o dom da palavra e dos gestos pode ser mais poderoso na arte da sedução do que a própria beleza física. Ele aprendeu a dizer as palavras certas, como se de um guião se tratasse, para seduzir qualquer menina. Mas, durante anos, ficou-se sempre pela sedução, pelos beijos que elas davam, que ele lhes roubava em pensamento. Ele descobriu que as palavras têm poderes e podem até mascarar ou esconder sentimentos.

sábado, 22 de agosto de 2009

A descoberta

Ao longo do tempo o corpo sofre as mais diversas mudanças. Ela nunca encarou de ânimo leve todas essas mudanças. De um corpo de menina a passar para um corpo de mulher, que durante a adolescência é visto como um objecto sexual. Ela nunca encarou esta realidade. Não queria vestir todas as roupas que as colegas da sua idade vestiam...aquelas roupas justas e insinuantes apenas para que o corpo fosse visto ainda mais como um objecto sexual. A partir de certa altura, Ela era vista como diferente. Solitária e de roupas alternativas e de padrões estranhos como se se quisesse camuflar naquela sociedade em que não se inseria. Ela gostava de química. As aulas de química em laboratório eram as suas favoritas. Gostava de misturar os ingredientes como se de culinária se tratasse, como se todas a reacções que ela provoca tivessem um resultado palpável. Numa dessas aulas pegou num bisturi e, de forma despropositada, fez um corte na mão. Um corte com cerca de 4 cm de comprimento na palma da mão, superficial, mas que dele brotavam gotas de sangue. Ela não sentiu dor. Sentiu apenas aquele liquido vermelho deslizar para o pulso. Alguém ao seu lado gritou. Ela descobriu que não doía. Ela descobriu que a dor física não supera a dor emocional, mas pode ajudar aliviá-la. A professora de química encaminhou-a á enfermaria da escola para que lhe fosse feito um penso compressivo. Ela ficou dispensada da aula. Ficou fechada nos seus pensamentos e na sua apatia.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A infância

O tempo, que não pára, passa por ele e por ela. São personagens vivas no tempo, em tempos diferentes que num instante se cruzam.
Nem ele nem ela sabem que se irão cruzar.
São bebés a aprender a viver e a sobreviver, são crianças que brincam as suas brincadeiras de criança. Jogam jogos de construção e estratégia e lógica que mais tarde vão tentar aplicar numa vida complicada porque a complicamos. Em tempos diferentes, com brincadeiras diferentes mas com o mesmo objectivo , ele e ela brincam, longínquos da sua consciência, nem tendo a consciência de que as suas vidas um dia se irão cruzar. Ele e ela são felizes na sua infância.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Os pais deles

Também os pais dele e dela tiveram um choro ensurdecedor de vida. Também os pais dele e dela já choraram muito pela vida fora. E é certo que os pais dele e dela ainda vão derramar lágrimas.
A mãe e o pai dele conheceram-se ainda crianças. Eram crianças crescidas, que depois da escola eram crianças pastores. Levavam o rebanho até ao monte. Por lá se encontravam. Perdiam-se em brincadeiras inocentes e às vezes perdiam os animais. Na hora de voltar a casa, depois de terem roubado fruta e fugido dos donos dessa fruta, contavam as cabeças de gado. Tinha que estar tudo certinho quando chegassem a casa porque os pais iam confirmar e se faltasse algum animal o castigo era certo. Com castigos e sorrisos e lágrimas e amores e desamores, os pais dele enamoram-se. Mais tarde casaram.
Os pais dela conheceram-se na escola. Foram colegas de escola. Ela, tímida sempre com as amigas. Ele era o popular, sempre rodeado de rapazes e suspiros de outras meninas. Eles raramente falavam. Os corações deles batiam mais rápido cada vez que o seu olhar se cruzava. Ela corava, ele não falava. Aos poucos foram perdendo a timidez e começaram a falar. Ele acompanhava-a até casa depois da escola. Falavam. Ele pediu a benção ao pai dela e um dia acabaram por casar. Os pais dele e dela têm um passado. São todos diferentes com diferentes personalidades construídas nesse passado diferente.

domingo, 26 de julho de 2009

O ínicio

Tudo tem um começo, um ínicio. Ele e ela também tiveram um ínicio. Ambos estão em tempos desfazados do próprio tempo. Têm ínicios diferentes. Nasceram em datas diferentes. E no nascimento de cada um deles a vida não se questionou se eles se chegariam a cruzar. No princípio tudo parece simples. A criança acabada de nascer chora para dizer que está viva. Ele e ela choraram quando nasceram. E os pais de ambos estavam felizes porque aquele choro significava que tinham chegado ao mundo cheios de vida. Um choro ensurdecedor de vida.