domingo, 23 de agosto de 2009

A descoberta II

Ele não tem grandes descobertas a fazer na vida. Nunca nada lhe faltou. Faltava-lhe talvez o corpo e a beleza estonteante dos rapazes da sua idade. Que utilizavam essa beleza para seduzir as meninas da idade deles. Ele descobria a arte da sedução. Sabia que não era necessário ter uma beleza semelhante à beleza de estrelas de cinema. Sabia que haviam meninas mais tristes e perdidas que precisavam de um apoio, ainda que efémero, para se sentirem mulheres. Ele sabia que o dom da palavra e dos gestos pode ser mais poderoso na arte da sedução do que a própria beleza física. Ele aprendeu a dizer as palavras certas, como se de um guião se tratasse, para seduzir qualquer menina. Mas, durante anos, ficou-se sempre pela sedução, pelos beijos que elas davam, que ele lhes roubava em pensamento. Ele descobriu que as palavras têm poderes e podem até mascarar ou esconder sentimentos.

sábado, 22 de agosto de 2009

A descoberta

Ao longo do tempo o corpo sofre as mais diversas mudanças. Ela nunca encarou de ânimo leve todas essas mudanças. De um corpo de menina a passar para um corpo de mulher, que durante a adolescência é visto como um objecto sexual. Ela nunca encarou esta realidade. Não queria vestir todas as roupas que as colegas da sua idade vestiam...aquelas roupas justas e insinuantes apenas para que o corpo fosse visto ainda mais como um objecto sexual. A partir de certa altura, Ela era vista como diferente. Solitária e de roupas alternativas e de padrões estranhos como se se quisesse camuflar naquela sociedade em que não se inseria. Ela gostava de química. As aulas de química em laboratório eram as suas favoritas. Gostava de misturar os ingredientes como se de culinária se tratasse, como se todas a reacções que ela provoca tivessem um resultado palpável. Numa dessas aulas pegou num bisturi e, de forma despropositada, fez um corte na mão. Um corte com cerca de 4 cm de comprimento na palma da mão, superficial, mas que dele brotavam gotas de sangue. Ela não sentiu dor. Sentiu apenas aquele liquido vermelho deslizar para o pulso. Alguém ao seu lado gritou. Ela descobriu que não doía. Ela descobriu que a dor física não supera a dor emocional, mas pode ajudar aliviá-la. A professora de química encaminhou-a á enfermaria da escola para que lhe fosse feito um penso compressivo. Ela ficou dispensada da aula. Ficou fechada nos seus pensamentos e na sua apatia.